domingo, 12 de fevereiro de 2012

Lição sobre a língua portuguesa - prefixos de negação

Milhares de palavras nasceram por meio da simples adição de um prefixo de negação a uma palavra já existente. Dois exemplos de fácil reconhecimento são feliz-infeliz e prazer-desprazer. Mas, quando nos
deparamos com palavras que claramente seguiram essa regra, como insosso.

analgésico e desaforo, vem a pergunta: o que aconteceu com sosso,
algésico e aforo? Será que ainda existem em estado de hibernação?
Imenso. Qualquer coisa tão grande que nem podia ser medida ou
calculada
era chamada em latim de immensus, não-mensurável. Menso não existe em
português, mas mensura sim é o ato de medir.
Incauto. Cauto existe, e quer dizer precavido, mas praticamente sumiu
na poeira dos velhos textos. Sobrou cautela, a qualidade de quem é
cauto, e também incauto, que veio diretamente do latim incardus,
descuidado.
Implacável. Nada a ver com placas de trânsito ou propaganda. Em latim,
placabilis era disposto a perdoar e esse é o sentido da palavra
placável.
Implacável é o artilheiro do futebol, que não perdoa, ou o zagueiro
que
faz a marcação sem piedade.
Insosso. Em latim, sulsus era gosto e insulsus acabou por designar a
falta do ingrediente mais usado - sem sal. Hoje, insulso existe em
português, com o mesmo sentido de insosso, mas sulso já desapareceu e
sosso nunca existiu.
Incógnito. O original cógnito existe em português, e veio do latim
cognitus, conhecido. Poderíamos dizer "Fulano preferiu permanecer
cógnito", mas soaria estranho. Só o incógnito, aquele que ninguém sabe
quem é, continua sendo mencionado.
Indelével. Começa com o verbo latino delere, apagar ou remover - que a
informática recuperou em deletar. Delebilis era o que podia ser
apagado
e indelebilis era aquela mancha que não saía de jeito nenhum. Tanto
delével quanto indelével sobrevivem até hoje.
Analgésico. O nome mais nobre para os milhões de comprimidos vendidos
anualmente no Brasil veio do latim álgesis, sensação de dor.
Atualmente,
algesia é um termo médico para dor, mas algésico não consta no
dicionário. Só sua negação, o analgésico.
Anemia. Popularmente, quer dizer fraqueza. Em grego, haimas era
sangue,
e daí vêm as palavras que começam com hemo - hemodiálise ou
hemorragia,
por exemplo. Anaimia era falta de sangue em grego e gerou anemia.
Emia,
que, teoricamente, seria com sangue, tornou-se uma terminação muito
usada para designar estados clínicos relacionadas a fatores
sanguíneos,
como em hipoglicemia e isquemia.
Desaforo. Foro ainda significa um direito ou privilégio que uma pessoa
tem e também o local onde uma desavença é resolvida - o fórum.
Antigamente, aforar era pagar um aluguel ao proprietário. Quando o
devedor dava o calote, ele desaforava. A palavra acabou ganhando
amplitude e se tornou sinônima de qualquer tipo de insolência ou
desrespeito.
Inusitado. Palavra que derivou de uso e quer dizer pouco comum.
Portanto,
usitado seria bastante comum. E é mesmo, embora seu uso já não seja
mais
tão usitado quanto foi um dia, tendo sido substituído por usual.
Inédito. Com um pouco de boa vontade, percebe-se que esse édito
significa editado. Mas édito é hoje uma palavra usada apenas em
linguagem jurídica. Já o antônimo inédito está forte e sacudido e se
refere a qualquer obra ainda não publicada.
Impassível. Alguém que não demonstra sentimentos nem paixão -. e essa
é
a origem da palavra. Então, se impassível é quem não tem paixão, um
apaixonado seria alguém passível? Por incrível que pareça, sim. Embora
mais usada em linguagem policial - "Fulano é passível de punição" -, a
palavra passível também denota a pessoa capaz de experimentar boas ou
más sensações.
Imune. Aquele que está protegido contra alguma coisa, como uma doença
ou
uma ação criminal. Em latim, munis era apto a desempenhar um trabalho
ou função e immunis, quem era liberado dessa responsabilidade. Não
parece, mas a palavra original - munus, que derivou de uma raiz
indo-europeia que significava troca - está contida não apenas na
imunidade, mas também em comunicação, remuneração e município.
Imberbe. Quem ainda não tem barba. E quem tem, seria berbe? Não. Berbe
é a única, dentre as centenas de palavras derivadas do latim barba,
que
tem um "e" na primeira sílaba.
Inócuo. Em latim, nocere era ferir e nocuus, qualquer coisa que podia
machucar. Inócuo é o contrário, algo que prejudica, física ou
psicologicamente. A palavra nócuo existe em português. Assim como
nocivo
quer dizer danoso.
Insólito. Solitus, em latim, era habituado, acostumado. A palavra
sólito
tem o mesmo sentido original. Insólito é o que foge do padrão, algo
não
frequente. Pode-se dizer (por enquanto) que casamentos são sólitos e
divórcios, insólitos.
Desdenhar. Uma palavra que passou por razoável transformação fonética
e
deixou poucas pistas sobre o que seria o denhar - que significa
dignar.
Em latim, dignare era tratar com dignidade e dedignare - que acabou
virando desdenhar - era faltar com o devido respeito.
Intacto. Tangere era tocar em latim. Intactas era algo que não havia
sido tocado. Em português, intacto continua sendo intocado. A palavra
tacto existiu no século XVIII, mas depois perdeu o "c" e virou tato,
ação de tocar. Embora praticamente nunca seja usado, intato também
existe em português.
Desinfeliz. Uma palavra curiosa é desinfeliz. Parece alguém que ficou
infeliz e depois recuperou a felicidade. Mas o desinfeliz continua
sendo um infeliz, só que um pouquinho menos.
fonte: http://groups.google.com/group/bons_amigos/t/2899105237652eb0

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